Presidente do ISCE Douro

A criação de projetos por parte do corpo estudantil no âmbito de unidades curriculares nas diversas instituições apresenta uma grande importância na vida presente e futura dos estudantes e das pessoas ao seu redor.

Estudante da UTAD, licenciado em Antropologia, doutoramento em Sociologia, doutorado em Turismo na Universidade de Aveiro, vários projetos em Associações de Apoio e Desenvolvimento em África e em Portugal, e desafiado pela PEDAGO para dirigir o ISCE Douro, o Presidente Prof. Doutor Edgar Bernardo apresenta o seu percurso académico, pessoal e profissional, como também o seu parecer acerca da criação de diversos e diferenciados projetos.

 

No seu percurso estudantil, as instituições que frequentou motivavam a concretização de projetos e trabalhos elaborados por alunos?

Sim, aqui temos dois tipos de projetos. Temos os projetos os quais são puramente criados pelos alunos, e temos projetos que derivam de trabalhos que as pessoas pedem. Mesmo esses trabalhos que derivam de trabalhos que as pessoas pedem, eu fui formado na UTAD por um grupo extraordinário de colegas, antropólogos. Tinha uma visão muito pragmática do ensino, mesmo sendo um ensino universitário, que nos levam para o terreno. Um dos projetos que nós criámos surgiam apenas de ideias dos nossos professores. Por exemplo, a minha primeira experiência em terreno fora do contexto universitário foi um trabalho que fiz com um grupo de colegas em que fomos fazer uma recolha de histórias de vida dos mineiros da Urgeiriça. Não sei se vocês conhecem as minas da Urgeiriça. São minas de urânio dos anos 60. Basicamente era a recolha de histórias de vida. Recolhemos evidências de acontecimentos do dia a dia, como é que era o quotidiano de uma vila mineira da década de 60 durante o Estado Novo. Foi uma experiência muito interessante que eu gostei bastante, e que surgiu completamente da proposta dos alunos. Em termos de projetos 100% realizados pelos alunos, muitas vezes são projetos ligados a questões sociais, ou algum tipo de iniciativa mais lúdica, em que nós tentamos aproveitar aquilo que é pedido pelos nossos colegas, em termos de organização de eventos, etc. e aquilo que a universidade nos permitia fazer, uma vez que nós, enquanto alunos, representamos a instituição de ensino onde estamos, sempre.

 

Qual a sua visão sobre atividades organizadas e colocadas em prática pelos estudantes?

A minha opinião é sempre positiva. O que é preciso compreender é que as atividades organizadas pelos estudantes são sempre experiências para os estudantes. São momentos da nossa vida em que nós estamos a testar as nossas capacidades, e nos estamos a reinventar. Quem tem a oportunidade de estudar fora do seu contexto natural, da sua residência original tem a oportunidade de se reinventar, portanto, é uma oportunidade excelente para fazer experiências e para ser criativo. A minha opinião é sempre positiva por isso mesmo, porque mesmo no pior dos cenários mesmo que a atividade ou proposta fracasse, não atinja os objetivos que os alunos têm, só o facto de terem tido a coragem e a iniciativa de os propor e realizar é em si um sucesso. Porque é um tipo de experiência que passamos a obter e que embora não apareça no nosso currículo muitas vezes aparece nos anéis da nossa árvore. É um percurso que nós passamos. Portanto, eu vejo como algo extremamente positivo.

 

Acha que estes projetos e trabalhos poderão tornar-se uma mais-valia para o futuro pessoal e profissional de quem os elabora?

Sim, de certa forma, o que eu disse anteriormente acaba por ir ao encontro dessa questão, mas eu acrescentava o seguinte. Nós, quando fazemos atividades extracurriculares, conhecemos pessoas e criamos redes, e muitas vezes são redes que nós não visionamos que possam, no futuro, ser extremamente importantes, mas na verdade o são. Nós temos uma visão muito fechada do que é a nossa rede quando somos mais novos, porque a nossa rede circunscreve-se apenas à família e o grupo de amigos mais próximo, e muitas vezes nós sentimos dificuldade em ver valor nos outros, e quando encontramos alguém que de facto nós dependemos dessa pessoa, seja uma entrevista de emprego, seja uma oportunidade, seja uma experiência, nós sentimo-nos ansiosos, estressados e às vezes desiludidos quando não conseguimos. Durante os meus dois anos em Cabo Verde, eu, através dos meus hobbies, no meu caso é jogar basquete, (jogo basquete desde os 6 anos) tive a oportunidade de jogar com um grupo de pessoas e são pessoas com quem eu fui criando laços. Num contexto específico não profissional, não académico. Amizades. E por coincidência, quando terminei o meu doutoramento um colega foi para uma câmara municipal, outro foi para um quadro de uma empresa, e seguimos as nossas vidas. Há dois anos assinámos o protocolo com Cabo Verde. Uma parte significativa do sucesso ou da possibilidade de assinarmos este protocolo com a Câmara Municipal resultou dessas redes que eu estabeleci há dois anos. Pessoas que eu conheci que neste momento estavam em posição de decisão. Portanto nós nunca devemos olhar para essas oportunidades apenas só como uma atividade que pode ter ou não sucesso, mas sim como uma oportunidade de alargar a nossa rede porque essa rede, mais tarde ou mais cedo, provavelmente vai nos dar frutos em árvores que nós não sabíamos que íamos precisar.

 

O que pensa o Doutor Prof. Edgar sobres este Web Jornal, e que mais valias pode trazer para as gerações futuras de estudantes?

Desde logo, as pessoas que vão ser entrevistadas podem partilhar convosco alguma experiência o que é extremamente importante. Nós temos a sorte, enquanto espécie, de atingir o nosso pico intelectual e físico por volta dos 30 anos, e a partir dessa idade é uma decadência lenta. Estou a brincar obviamente. Mas sim, é diferente. O nosso corpo começa a falhar, muito lentamente e o nosso intelecto mais tarde também o faz. O máximo de conhecimento que nós conseguimos absorver o mais cedo possível, melhor nos preparamos para o futuro. Da mesma forma que adquirimos conhecimento, regras e normas do que devemos e não devemos fazer ao observar os outros, também podemos adquirir os mesmos através de conversas e partilha de experiências. Quando somos mais novos, temos a tendência de bloquear as vozes que estão fora daquela rede que eu falava há pouco, não valorizamos, porque achamos que vamos ser diferentes de alguma forma. Mas a verdade é que todos passamos pelo mesmo processo. Os alunos que no futuro poderão ter a oportunidade de escutar as diferentes experiências das pessoas que vão entrevistar, como para vós enquanto organizadores desta proposta. É extremamente enriquecedor, e uma aprendizagem que no futuro pode vos abrir portas ou dar-vos experiências que vão ser importantes noutros momentos. A minha recomendação é essa: escutem as entrevistas, ouçam o que as pessoas têm a dizer, porque garantidamente alguma coisa, por mais pequena que seja, vos vai ajudar, ensinar ou influenciar.

 

No seu ponto de vista, é importante para os estudantes, docentes e comunidades académica a criação de projetos no âmbito das UC?

É de muita importância, eu não diria a maior importância porque ao fim ao cabo a UC tem como objetivo último formar alunos para uma área específica e muitas vezes os alunos têm ideias criativas e interessantes, mas que escapam ao objetivo principal da UC. É sempre, ensinar um conjunto de conteúdos, mas há muitas formas de aprender, tudo o que sejam atividades que acelerem ou facilitem a aprendizagem são de valorizar. A dificuldade, uma crítica também a nós enquanto professores, é que muitas vezes é difícil para o professor que já tem a UC estruturada. Mas muitas vezes deixamos margem de manobra para, consoante a turma adaptar. É interessante e muito importante que os professores tenham essa flexibilidade de usar estas iniciativas dos alunos. Não vejam isso como uma resistência, mas professores são pessoas como os alunos e todos temos um perfil e formas de estar diferentes. Para mim, e enquanto diretor, tem uma grande importância e é algo que nós tentamos estimular formas diferentes de transferir conhecimento para os nossos alunos e até porque nós professores também aprendemos com os nossos alunos, não necessariamente os conteúdos da matéria, mas formas de estar, experiências e interações diferentes.

 

Na sua opinião, os recursos que o ISCE Douro proporciona para as atividades e projetos são suficientes?

Considero que sim, mas há aqui uns grandes parênteses, que é depende da atividade e do projeto. Há atividades e projetos que alunos nos fazem chegar como propostas. E digo, a nós, direção, que embora sejam excelentes ideias, não são exequíveis, seja por questões de calendarização seja por questões orçamentais, mas uma questão que muitas vezes tentamos levantar para resolver estes problemas é uma iniciativa que pode estar sob o “chapéu” do ISCE Douro. Não significa diretamente que a instituição esteja a controlar ou a coordenar esse projeto. É importante que os alunos entendam que o contributo principal da atividade é a ideia não pode morrer, ou não pode ficar apenas na premissa de que eu tenho esta ideia e a instituição que vai apoiar-me 100% é o contrário. Eu tenho uma ideia e como é que eu vou conseguir implementá-la e invariavelmente como o ISCE Douro pode ou não ajudar. Normalmente fazemos isso acontecer com a associação de estudantes, com a comissão de praxe ou com alunos de diferentes departamentos. O que tentamos fazer é indicar possíveis recursos e alternativas.

 

Que mensagem gostaria de deixar para os estudantes se motivarem a participar o mais ativamente possível em projetos que procuram deixar a marca da sua passagem pela instituição? Que tipo de projetos gostaria de ver implementados?

Diferentes etapas. Eu acho que quando um aluno ou uma aluna tem uma boa ideia, deve antes de discutir, que é o segundo ponto, com colegas, sentar-se e escrever. Qual é que é a minha ideia? Quais são os objetivos desta ideia? Quais são os resultados que eu espero desta ideia? Tópicos. Coisas muito simples. Depois de ter isso escrito e bem pensado, então, reunir um conjunto de colegas que achem que podem apoiar nessa implementação dessa ideia e discutir e afinar. Depois de ter isso feito, então, há duas hipóteses. Ou apresento a ideia a um professor com quem nós todos sentimos maior empatia com uma outra pessoa, que partilhar a ideia para que esse professor possa contribuir com sugestões para melhorar. E depois de terem esses três passos feitos, então, que nos tragam diretamente a proposta. E é fácil, é só agendar com o GAP. O GAP marca a reunião, nós sentamos, quantos de vocês sabiam que a direção está não está só a 10 metros, mas está ali, geralmente, ao pé de vocês, estou aqui hoje, neste momento, por exemplo. Portanto, é muito fácil nós escutarmos diretamente da boca dos nossos estudantes as ideias e propostas. Fazemos isso sempre. E, portanto, depois nós tentaremos encaminhar e apoiar-vos nesse desafio. Que tipo de ajuda é que podem esperar? Pronto, como dizia há pouco, é difícil de antecipar porque depende das sugestões. Mas uma coisa é certa, os alunos, os nossos estudantes, podem ter a certeza de que, seja a direção, ou sejam os professores ou os programadores dos vossos cursos, vão sempre valorizar imenso este tipo de iniciativas. Não aparece como uma linha da nota final, mas, muitas vezes, é uma perceção com que nós ficamos dos nossos alunos, que podem ajudar, a definir quem nós podemos ou não recomendar, por exemplo, quando vem uma associação ter connosco. Gostaríamos de fazer esta iniciativa, o ISCE Douro pode ajudar e nós podemos dizer diretamente isso, parece-me um perfil indicado para o aluno A ou B ou C, eu posso partilhar o contacto e vocês depois veem o que conseguem fazer em conjunto. Algumas iniciativas mais formais com a chancela institucional ISCE Douro terão complemento ao diploma. Mas, mais importante é que, havendo o diploma, o sucesso ou não das iniciativas que os alunos têm ou que possam ter, o mais importante é a rede que é criada e a imagem que o aluno deixa para a comunidade. Não só outros colegas, professores, serviços, etc., mas os nossos parceiros, porque nós estamos em constante contacto. E, no futuro, não podemos esquecer o seguinte, as instituições de ensino superior, sobretudo os professores, os curadores de departamento, são muitas vezes contactados por empresas quando chegam o currículo dos alunos. Eu posso partilhar aqui convosco? Essa experiência, eu tive, na altura, como professor da UTAD, em que tínhamos empresários que nos contactavam e dizíamos, professor, recebemos estes currículos, chegámos a três, estes dois foram seus alunos. Para este perfil de trabalhador, A ou B, quem recomendaria? E as pessoas não podem ser ingénuas. Isto acontece na realidade. Portanto, muitas vezes é importante mostrar essa autonomia, essa iniciativa e essa disponibilidade. E as pessoas vão ser extremamente importantes no nosso futuro. Pode não ser no primeiro emprego, pode não ser no segundo emprego, mas são as redes que vamos construindo. Portanto, esse é o conselho que eu deixo. Não menosprezem nem as vossas ideias, muitas vezes têm boas ideias, nem menosprezem a importância de tentar implementar essas ideias.

 

Foi estudante e docente na UTAD?

Sim.

 

O que é que preferiu, ser estudante ou professor?

É muito diferente. Não consigo comparar. Porquê? Bem, tecnicamente ainda sou estudante, estamos sempre a estudar. Mas é diferente, somos tipos de alunos diferentes. Quando nós somos alunos de licenciatura e temos aquela idade de 19, bem, na minha altura as licenciaturas eram de 5 anos, quer dizer que nós saímos com 22, 23, 24, dependia de quando é que entrávamos.

E esses foram os melhores anos da nossa vida. Portanto, é incomparável. É incomparável esses 5 anos com ser professor, em ter responsabilidades, em ter a família, em ter de preparar aulas, em ter de estar a motivar alunos. Porque quando nós somos alunos, e por sermos mais novos, dificilmente encontramos motivação fora daqueles temas que nós gostamos mais. Ou quando estamos no grupo, uma pessoa que

nos interessa está motivada. E, portanto, sem sombra de dúvida, os melhores anos da nossa vida são quando estamos a estudar no ensino superior.

 

Entrevista realizada por: Maria Maia (ACJ 1º.ano. 2023/2024)

Entrevistado: Presidente do ISCE Douro

Escrito por: Diana Silva, Alexandra Oliveira (ACJ 1º.ano. 2023/2024)

Revisto por: Corpo Editorial / Célia Novais

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